Apesar das pressões para que o Tamiflu (antiviral usado contra a gripe suína) seja liberado para todos os pacientes com sintomas que procurem hospitais, o Ministério da Saúde informou ontem que não vai modificar o protocolo atual de prescrição do medicamento.
A pasta criticou ainda medidas como a de Passo Fundo (RS) e do Rio de Janeiro, que tornaram o remédio mais acessível, pois afirma que o vírus A (H1N1) pode se tornar resistente ao medicamento.
Pelo protocolo, o Tamiflu é indicado apenas para pessoas com fatores de risco ou em estado grave e deve ser usado em, no máximo, até 48 horas a partir do início dos sintomas.
Mas em São Paulo e no Rio de Janeiro surgiram contestações a essa estratégia.
Para o Ministério Público Federal paulista e o Conselho Regional de Farmácia de São Paulo, há uma "aparente contradição" na recomendação.
Ambos dizem que, muitas vezes, um paciente com gripe vai ao hospital sem se enquadrar nesses critérios e é dispensado. Quando busca o hospital novamente, já em estado grave, não pode mais receber o remédio, pois as 48 horas já passaram.
"Tenho o relato de um paciente de São José do Rio Preto [438 km do SP] com quem aconteceu isso e ele veio a falecer. O protocolo está sendo ineficiente, porque as mortes estão crescendo", diz o procurador Jefferson Aparecido Dias.
Ele enviou ontem pedido de explicações ao ministério sobre essa política. A pasta terá dez dias para dar a resposta. Após analisá-la, Dias pode entrar com ação contra a medida.
Bombeiros
No Rio, a Defensoria Pública da União decidiu entrar na próxima semana com ação na Justiça federal contra a União, o Estado e a prefeitura da capital questionando a política de combate à gripe suína.
O órgão pede que o Tamiflu e o similar fabricado pela Fiocruz sejam oferecidos em toda a rede de saúde pública e privada e não tenham a prescrição restrita a grupos de risco ou a pacientes em estado grave.
Ontem, a Secretaria Estadual de Saúde do Rio começou a distribuir o medicamento de maneira descentralizada, inclusive em 45 quartéis do Corpo de Bombeiros. O remédio poderá ser retirado mediante receita médica e formulário específico indicando que se trata de caso grave ou com fatores de risco --ambos podem ser fornecidos por qualquer médico.
Em Passo Fundo (RS), o Hospital São Vicente de Paulo já quebrou o protocolo e passou a prescrever o antiviral assim que o paciente apresenta sintomas.
As medidas são criticadas por infectologistas. "O vírus vai criar resistência e os que realmente precisam do remédio vão sofrer as consequências", afirma Caio Rosenthal, do Instituto Emílio Ribas.
Já há relatos de resistência ao medicamento em quatro países, conforme o ministério.
Ele afirma ainda que os pacientes que só manifestam a forma grave da doença após 48 horas dos primeiros sintomas não necessitam do antiviral, já que, provavelmente, a piora se deve a complicações da gripe, como pneumonias bacterianas, que têm de ser combatidas com outro tipo de medicação.
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