sexta-feira, 19 de setembro de 2014

'Por que me voluntariei para testar a vacina do ebola'

Atualizado em  18 de setembro, 2014 - 15:54 (Brasília) 18:54 GMT
  •   Ruth Atkins (AFP)

Ruth Atkins foi a primeira voluntária a receber uma dose da vacina nos testes clínicos feitos no Reino Unido

Pouco depois de chegar a um hospital de Oxford, no sudeste da Inglaterra, uma mulher britânica de 48 anos tornou-se parte de uma batalha global contra a maior epidemia de ebola da história.
Funcionária do Sistema Nacional de Saúde do Reino Unido, Ruth Atkins foi a primeira voluntária sem a doença a ter o material genético do vírus injetado em seu organismo.

O procedimento realizado na quinta-feira deu início aos testes feitos no país para se obter uma vacina contra o ebola. Atkins disse estar "perfeitamente bem".
"Ouvi no rádio que precisavam de voluntários e pensei na tristeza pela qual muitos estão passando no leste da África", explicou ela à BBC.
"Pensei no que poderia fazer quanto a isso, e participar dos testes da vacina é um gesto que, mesmo pequeno, pode ter um grande impacto."

Catástrofe

Ao menos 2,5 mil pessoas morreram até agora na epidemia de ebola, mas autoridades sanitárias temem que este número possa ser muito maior, já que muitos doentes não entram em contato com profissionais de saúde ou são detectados.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) advertiu que a epidemia pode se tornar uma catástrofe humana.
Além dos enormes custos humanos gerados pela epidemia, o Banco Mundial alertou recentemente sobre o "impacto catastrófico" que ela pode ter sobre as economias da Guiné, da Libéria e de Serra Leoa, os três países africanos mais afetados.
Atkins faz parte de um grupo de 60 voluntários que participam dos testes clínicos em curso na Universidade de Oxford. O mesmo vendo sendo feito nos Estados Unidos.
"Explicaram tudo muito bem", disse ela. "Eles me tranquilizaram e esclareceram os possíveis efeitos colaterais."
Segundo especialistas, os voluntários não correm o risco de serem infectados, porque a vacina contém apenas uma pequena porção do material genético do vírus, uma proteína do ebola, que é injetada no vírus do resfriado comum encontrado em chimpanzés.
"Se conseguirem criar a vacina e começarem a distribuí-la, isso fará uma grande diferença na vida das pessoas", opinou Atkins.
Ela terá que fazer um diário eletrônico nos oito primeiros dias após receber a vacina, detalhando sua temperatura corporal, sensações e possíveis reações do corpo.

Testes clínicos


Faixa contra o ebola (AP)
Ao menos 2,5 mil pessoas já morreram no leste da África na maior epidemia de ebola da história
A vacina foi desenvolvida por cientistas da Okairos, uma empresa de biotecnologia suíço-italiana comprada no início do ano pela farmacêutica britânica GlaxoSmithKline.
Riccardo Cortese, presidente da Okairos, explicou à BBC que os pesquisadores trabalham há seis anos na vacina em conjunto com o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos.
"Nós a fabricamos e eles fizeram os testes em animais", disse Cortese à BBC. "Os resultados destes testes foram muito satisfatórios."
Cortese diz que, mesmo antes deste epidemia, já se havia decidido proceder rapidamente para o testes em humanos. "Isso foi acelerado ainda mais com a epidemia."
A Okairos está em contato com a GlaxoSmithKline para fabricar todas as doses para os testes realizados no Reino Unido e nos Estados Unidos e planejar os testes que serão feitos na África.
Alfredo Nicosia, diretor-científico da empresa, disse ser possível que a vacina esteja pronta "em alguns meses".
"Tudo ocorrerá mais rápido do que o normal, o mais rápido possível", afirmou.
Os testes determinarão se a vacina é segura e se provoca uma resposta imunológica adequada. A princípio, ela será provavelmente usada em grupos de alto risco.
Segundo a OMS, profissionais de saúde e de outras áreas que lidam diretamente com a epidemia serão os primeiros a recebê-la.
Segundo Benjamin Neuman, virologista da Universidade de Reading, que não participa dos testes, a vacina pode estar disponível em janeiro.
Mas ele advertiu que o sistema imunológico é complexo e que, mesmo se os testes clínicos forem bem-sucedidos, é difícil saber se a vacina funcionará.
"O verdadeiro teste será quando uma pessoa que a tiver recebido entrar em contato com o vírus na África."


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