Saúde-Pesquisa: Brasil
vai testar mosquito
"vacinado" contra dengue
FolhaPress
Por Giuliana Miranda
SÃO PAULO, SP, 24 de setembro (Folhapress) - O Brasil começa a dar os primeiros passos em uma ambiciosa estratégia internacional de combate à dengue: a introdução na natureza de exemplares do mosquito transmissor, o "Aedes aegypti", imunes à doença.
A iniciativa, capitaneada pela Fiocruz, (Fundação Oswaldo Cruz), foi anunciada ontem no Congresso Internacional de Medicina Tropical, no Rio de Janeiro.
O trabalho está em fase de testes iniciais e, se tudo sair como o planejado, os primeiros aedes "vacinados" contra a dengue devem ganhar as ruas do país em estudos controlados no segundo semestre de 2014.
Em laboratório, cientistas contaminam os embriões do "Aedes aegypti" com uma variante da bactéria "Wolbachia", que é encontrada em cerca de 70% dos insetos na natureza, incluindo moscas-das-frutas e pernilongos "comuns".
No organismo do mosquito, a presença da bactéria acaba impedindo o desenvolvimento do vírus da dengue.
"Os mecanismos que provocam isso são complexos, desde mudanças no sistema imune até a competição por nutrientes no interior das células", diz Luciano Moreira, pesquisador da Fiocruz e chefe do projeto "Eliminar a Dengue: Desafio Brasil".
"Mas o método é extremamente seguro. A bactéria usada já faz parte do dia a dia. Não se trata de uma alteração genética ou introdução de um micro-organismo novo", diz.
Uma vez introduzida na população de mosquitos, a bactéria consegue se espalhar com certa facilidade. Embora a contaminação seja apenas vertical (dos pais para a prole), os mosquitinhos infectados têm mais sucesso na reprodução.
As fêmeas contaminadas têm descendentes com a bactéria independentemente de o macho estar infectado.
No caso das fêmeas que não apresentam o "Wolbachia" mas que copulam com machos com a bactéria, praticamente todos os ovos fecundados acabam morrendo.
Ou seja: comparativamente, fêmeas com a "Wolbachia" produzem mais ovos, que vão originar novos mosquitos que já nascem com a bactéria e, portanto, imunes à dengue.
O método, desenvolvido na Austrália, já foi testado com sucesso em duas cidades do país, onde a população de insetos foi rapidamente substituída pela variante imune.
"Nós monitoramos constantemente essas áreas [da Austrália] e vimos que, até agora, 18 meses depois, essas áreas continuam com praticamente 100% dos mosquitos com a bactéria", diz Scott O'Neill, professor da Universidade Monash, em Melbourne, e um dos autores do trabalho australiano, publicado em 2011 na "Nature".
Antes de começar os testes com o mosquito na natureza, os cientistas da Fiocruz vão fazer pequenas adaptações no método australiano.
"Os vírus que circulam nos dois países têm algumas diferenças. Isso precisa ser levado em consideração", explica Luciano Moreira.
SÃO PAULO, SP, 24 de setembro (Folhapress) - O Brasil começa a dar os primeiros passos em uma ambiciosa estratégia internacional de combate à dengue: a introdução na natureza de exemplares do mosquito transmissor, o "Aedes aegypti", imunes à doença.
A iniciativa, capitaneada pela Fiocruz, (Fundação Oswaldo Cruz), foi anunciada ontem no Congresso Internacional de Medicina Tropical, no Rio de Janeiro.
O trabalho está em fase de testes iniciais e, se tudo sair como o planejado, os primeiros aedes "vacinados" contra a dengue devem ganhar as ruas do país em estudos controlados no segundo semestre de 2014.
Em laboratório, cientistas contaminam os embriões do "Aedes aegypti" com uma variante da bactéria "Wolbachia", que é encontrada em cerca de 70% dos insetos na natureza, incluindo moscas-das-frutas e pernilongos "comuns".
No organismo do mosquito, a presença da bactéria acaba impedindo o desenvolvimento do vírus da dengue.
"Os mecanismos que provocam isso são complexos, desde mudanças no sistema imune até a competição por nutrientes no interior das células", diz Luciano Moreira, pesquisador da Fiocruz e chefe do projeto "Eliminar a Dengue: Desafio Brasil".
"Mas o método é extremamente seguro. A bactéria usada já faz parte do dia a dia. Não se trata de uma alteração genética ou introdução de um micro-organismo novo", diz.
Uma vez introduzida na população de mosquitos, a bactéria consegue se espalhar com certa facilidade. Embora a contaminação seja apenas vertical (dos pais para a prole), os mosquitinhos infectados têm mais sucesso na reprodução.
As fêmeas contaminadas têm descendentes com a bactéria independentemente de o macho estar infectado.
No caso das fêmeas que não apresentam o "Wolbachia" mas que copulam com machos com a bactéria, praticamente todos os ovos fecundados acabam morrendo.
Ou seja: comparativamente, fêmeas com a "Wolbachia" produzem mais ovos, que vão originar novos mosquitos que já nascem com a bactéria e, portanto, imunes à dengue.
O método, desenvolvido na Austrália, já foi testado com sucesso em duas cidades do país, onde a população de insetos foi rapidamente substituída pela variante imune.
"Nós monitoramos constantemente essas áreas [da Austrália] e vimos que, até agora, 18 meses depois, essas áreas continuam com praticamente 100% dos mosquitos com a bactéria", diz Scott O'Neill, professor da Universidade Monash, em Melbourne, e um dos autores do trabalho australiano, publicado em 2011 na "Nature".
Antes de começar os testes com o mosquito na natureza, os cientistas da Fiocruz vão fazer pequenas adaptações no método australiano.
"Os vírus que circulam nos dois países têm algumas diferenças. Isso precisa ser levado em consideração", explica Luciano Moreira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário