Astrônomo explica descoberta de vida feita pela Nasa
A Nasa - a agência espacial americana - divulgou, em coletiva na tarde desta quinta-feira, a descoberta de um organismo diferente de todos os conhecidos anteriormente vivendo na Terra. A descoberta expandirá a procura de vida em outros planetas.
A nova forma de vida teria origem distinta do ancestral comum que gerou a vida no nosso planeta.
Segundo Douglas Galante, coordenador do Laboratório de Astrobiologia do Hemisfério Sul, o AstroLab, na Universidade de São Paulo (USP), em entrevista ao Terra, a descrição dessa bactéria "é de um 'ET' vivendo entre nós, porque possui um metabolismo diferente de todos os organismos da Terra". Para Galante, "é só a pontinha do iceberg da quantidade de organismos que não conhecemos e que são diferentes de tudo já conhecido".
O estudo foi realizado por Felicia Wolfe-Simon, cientista da Nasa. O organismo descoberto em lago tóxico na Califórnia, nos Estados Unidos, é capaz de usar arsênio ao invés de fósforo em seu metabolismo - todas as formas de vida do planeta, do menor micro-organismo ao maior animal, são capazes de metabolizar com seis componentes - carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio, fósforo e enxofre (chamados pela sigla CHONPS). O novo organismo substitui o fósforo por arsênio, que é extremamente venenoso ao humano.
Para Galante, a descoberta "nos força a expandir os conceitos sobre o que é vida". "Agora, sabemos que existem outros organismos que podem usar outros elementos", completou. Galante explica que o arsênio, em humanos, pode ser confundido pelas células, a impedindo de respirar, o que a mata por falta de energia, por necrose. O fósforo está presente em diversas moléculas no interior da célula - forma a estrutura do DNA, é a molécula base do ATP (transporte de energia)-, e faz parte do transporte de proteína e lipídios. O arsênio se parece com o fósforo, tendo o tamanho de átomo parecido, por exemplo, o que faz as células se confundirem.
A forma de vida descoberta possui metabolismo completamente diferente, incorporando o arsênio em suas moléculas mais baixas. É o primeiro organismo que pode construir material genético diferente do DNA. Pode ser visto, segundo Galante, ou como um "ET entre nós" ou como "um primo muito distante".
O lago em que o organismo foi descoberto está isolado do oceano, com os sais ficando depositados nele. Assim, os elementos se concentram com a evaporação do lago, e a salinidade e seu PH aumentam. Hoje, a salinidade desse lago é, em média, 3 vezes maior que dos oceanos, e o PH é 10 - o humano varia entre 6 e 7. A quantidade de oxigênio dissolvida na água é baixa. Mas já se sabia de organismos que conseguem sobreviver nesse lago - algumas algas, por exemplo. São organismos conhecidos como "extremófilos", por viver em situações extremas.
Galante acredita que a prioridade deva ser a continuação da procura na Terra. Para ele, menos de 1% da biodiversidade terrestre é conhecida. Ele conta que o financiamento para novas pesquisas fora da Terra devem continuar, apesar dos boatos de que o anúncio foi realizado sob grande alarde para buscar novos investidores. Para ele, a campanha de marketing funcionou muito bem, com as mídias sociais sofrendo uma "enxurrada" de comentários. "Muita gente no mundo inteiro se voltou para a coletiva", falou.
- Redação Terra